Da popularidade ao ‘sumiço’: o que aconteceu com os poodles no Brasil?

Edgar Romanov
Edgar Romanov Brasil
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Não é só impressão sua: se o Brasil era um país cheio de poodles nos anos 1990, hoje é cada vez mais raro encontrar um e essa popularidade do passado é um dos motivos que levaram a um declínio do número de animais e criadores.

Quando as poodles Brisa, de 16 anos, e Belinha, de 13, saem para passear nas ruas de Madre de Deus, na Bahia, elas não recebem mais os elogios e carinhos de antes.

“Além de estarem com a aparência de que são velhinhas, a raça não é mais a da moda, que as pessoas param e ficam elogiando quando encontram”, conta a estudante Laila Cruz, de 24 anos, que tem mais tempo de vida com as cachorras do que sem elas.

A rotina de Brisa e Belinha ilustra a atual situação da raça que, nos anos 1990 e início dos anos 2000, foi uma das mais populares do Brasil: a maioria que ainda está viva já é idosa, e poucas pessoas buscam por ela.

No país, não há um censo oficial que detalhe raças dos animais de estimação, mas alguns dados dão um panorama sobre o “sumiço” dos poodles.

A Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), que estabelece padrões para criação e emite pedigrees (certificado de origem de cães de raça) no Brasil, aponta o auge dos poodles em 1997, quando 3.193 foram registrados por pessoas que procuraram a organização.

Em 2022, a despeito do aumento do mercado pet nos últimos anos, o número de poodles registrados foi de apenas 501, uma queda de quase 85%.

Já o “censo” anual que as empresas DogHero (de hospedagens para pets) e Petlove (comércio eletrônico) fazem entre clientes cadastrados nas plataformas mostra que 62% dos poodles tinham mais de 15 anos em 2021. Ou seja, estão no fim da vida.

No mesmo levantamento, a raça representava 5% dos cães cadastrados nas plataformas em 2021 – menos que os 6,1% identificados em 2017, no primeiro levantamento, e atrás de vira-latas (sem raça definida), shih-tzus e yorkshires.

O desaparecimento
Os especialistas na raça com quem a BBC News Brasil conversou concordam que a própria popularidade do poodle foi parte da sua “desgraça”. Com a alta procura por cães da raça, também disparou a quantidade de pessoas que criavam, reproduziam e vendiam os animais no Brasil.

“Todas as raças que têm um pico de popularidade passam a ser vendidas por mais criadores. O que acontece muitas vezes é que são pessoas que só visam o lucro, sem critérios ou estudos sobre raça”, avalia Maria Gloria Romero, dona de um canil especializado em poodles registrado em São Paulo.

No caso dos poodles, o desejo das famílias foi por animais cada vez menores. A situação chegou a um ponto em que, no Brasil, começaram a ser comercializados animais com o nome “micro” ou “zero” – mesmo que, nos critérios oficiais, o menor tamanho fosse o “toy”, com altura entre 24 e 28 cm.

“O resultado dessa busca muitas vezes são animais com deficiências, problemas. Os muito pequenos só deviam ser de companhia, não para ficar reproduzindo.”

Entre os problemas que mais se tornaram comuns entre os poodles no Brasil, estão a fragilidade óssea, convulsões, deficiências na arcada dental e as chamadas “lágrimas ácidas”, que deixam a região perto do olho escura.

Segundo as criadoras especializadas, quando alguma característica que afeta a saúde do animal é identificada, o cachorro não deveria ser utilizado para reprodução. Também não se deve cruzar cães com grau de parentesco próximo.

Além da fama de problemáticos acabar “minando” o interesse pela raça, Maria Gloria Romero avalia que famílias compravam filhotes para crianças esperando que os animais não crescessem — mas, muitas vezes, cresciam.

No fim dos anos 1990, quando a criadora fundou o Poodle Clube Paulista, famílias apareciam com reclamações constantes em exposições que, na época, reuniam dezenas de animais: “Cansei de ser abordada nos eventos por pessoas que se sentiam verdadeiramente enganadas por canis que reproduziam sem preocupações com a raça”.

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